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 ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE

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Fernando Freitas
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MensagemAssunto: ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE   ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE I_icon_minitimeSáb Ago 04, 2012 10:27 am

Entrevista do brasileiro que lutou no Iraque

Por:Edilson Saçashima
Do UOL Notícias


O brasileiro Fernando Rodrigues desejava servir em alguma missão de paz da ONU ou em um “combate contra inimigos da democracia”. Para tanto, tentou servir as Forças Armadas brasileiras ou entrar na Academia Militar das Agulhas Negras. Não conseguiu. Por uma série de circunstâncias, foi aos EUA, tornou-se marine e acabou no meio do conflito no Iraque. Nesta entrevista ao UOL Notícias, o brasileiro conta como se tornou um soldado dos EUA, o duro treinamento para ser um marine e a decisão de entrar na “briga” contra o terror.

UOL Notícias – Você sempre quis ser militar?
Fernando Rodrigues – Não, essa vontade começou pequena, e passou a crescer exponencialmente com o passar do tempo e depois de certas portas que foram se fechando. Idealista, queria dar minha contribuição servindo as Forças Armadas em missões de paz a serviço da ONU ou, na face mais escura da moeda, em combate contra inimigos da democracia, liberdade e da própria evolução da civilização e dos direitos humanos. A princípio acomodei essa vontade quando prestei vestibular de Administração de Empresas (procurando seguir os passos de meu pai, que é empresário) no período noturno, para que pudesse servir no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR), de Curitiba (PR). Quando algumas portas foram se fechando, outras foram se abrindo e segui um caminho tão bizarro que me levou aos Estados Unidos e depois ao Oriente Médio. Até hoje me surpreende para onde essa estrada me levou e o quanto me ensinou.

ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE Marines1

UOL Notícias – Você foi impedido de servir as Forças Armadas brasileiras e também não conseguiu entrar na Academia Militar das Agulhas Negras. O que aconteceu?

Fernando Rodrigues – Na época de alistamento, imaginava que voluntários teriam preferência na época de seleção para o serviço militar no Brasil. Embora eu estivesse em plena forma, era atleta, (como hobby era competidor de jiu-jitsu), fui dispensado por excesso de contingente enquanto outros foram aleatoriamente selecionados para as poucas vagas. Achei extremamente mal organizado e não pude servir o NPOR de Curitiba.

A vontade de servir passou a crescer e pensei em prestar concurso para a Academia Militar das Agulhas Negras (em Resende, RJ). O site de internet da AMAN estava desatualizado (a data do concurso seguinte incluía nascidos até 1980, mas na verdade esta data era a do ano passado, portanto, o próximo concurso era apenas para os nascidos até 1981). Não me dei conta do erro e procurei cursinhos para me preparar para a prova da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx, que era a porta e pré-requisito para admissão na AMAN). No dia da inscrição, fui alertado por um funcionário do correio que estava acima da idade por um mês e quatro dias (nasci no dia 26 de novembro de 1980). Foi uma grande decepção, mas Deus com certeza escreve certo com linhas tortas… Gosto de acreditar que Ele apenas tinha um melhor plano para meu desenvolvimento nessa vida.

Foto Brasileiroiraque:Fernando Rodrigues participou de duas campanhas militares como marine dos EUA no Iraque

ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE Brasileiroiraque
UOL Notícias - Quando você foi para os Estados Unidos? Qual o motivo?
Fernando Rodrigues – Em meados de 2001, enquanto planejava minhas próximas alternativas, tranquei a faculdade noturna na UNICENP. Depois de pesquisas na internet, descobri uma academia militar nos Estados Unidos chamada “The Citadel” (A Fortaleza) que era uma universidade militar que permitia alunos estrangeiros de países amigos aos EUA com visto de estudante. Pensei que seria uma boa experiência que iria ao menos me expor à disciplina e ao mundo militar com que sonhava participar. Isso tudo somado ao fato de receber diploma universitário era unir o útil ao agradável na minha perspectiva.

As mortes de dois amigos, aliadas ao fanatismo da Al Qaeda e ‘jihadistas’, me mostrou a ameaça desses grupos à civilização, à liberdade e aos direitos humanos

UOL Notícias - Quando decidiu entrar para o corpo dos fuzileiros navais dos EUA?
Fernando Rodrigues – O plano original era para que eu concluísse o currículo acadêmico da Citadel (bacharelado em Ciências Políticas) e voltasse ao Brasil formado, com a experiência da academia militar estando de bom tamanho. No entanto, depois dos atentados de 11 de setembro, 2001, alguns de meus colegas que eram reservistas foram chamados pelas suas respectivas unidades e alguns foram ao Afeganistão. Depois disso, em 2003, alguns outros colegas foram ao Iraque participando da invasão e da Operation Iraqi Freedom (OIF). Foi lá que perdi dois colegas de classe, um morto em ação por um terrorista sniper e outro que foi morto quando seu veículo blindado LAV (Light Armored Vehicle) sofreu uma emboscada por terroristas recebendo 11 foguetes de RPG-7 (arma soviética antitanque).

As mortes desses dois amigos, aliadas ao fanatismo da Al Qaeda e “jihadistas”, me mostrou a ameaça desses grupos à civilização, à liberdade e aos direitos humanos (principalmente das mulheres, que são subjugadas e tratadas como animais dentro da interpretação radical islâmica destes grupos). Decidi então que a briga era minha também, de imediato saí da academia militar e comecei o processo de alistamento nos marines.

UOL Notícias – Quais são os pré-requisitos para se candidatar ao corpo dos fuzileiros navais?
Fernando Rodrigues – Na época, tinha recebido o visto de residência permanente (conhecido como “green card”) devido ao meu casamento com minha mulher, a americana Laurie. Esse documento é o pré-requisito para alistamento nas forças armadas americanas, somado a uma “high-school degree a” (diploma equivalente ao ensino médio brasileiro). Para que eu fosse oficial, eu tinha que ter a cidania americana (nas forças armadas são precisos dois anos para se obter o “green card”; é mais rápido que na vida civil, que leva de 4 a 5 anos) e diploma universitário (Ciências Políticas).

Hoje em dia entrar nas forças armadas americanas não é difícil, é só ter a documentação necessária e ser atleta e “casca grossa”. O difícil são as etapas a ser conquistadas e ser um bom marine, aí que está o desafio. Um misto de paciência de monge tibetano, humildade de lixeiro, honra de um cavaleiro da távola redonda e, quando necessário, a força e agressividade de um leão mal humorado. Aí sim você será bem lembrado pelos que serviram ao seu lado no Marine Infantry (Infantaria dos Marines, a força de combate)…

O difícil é ser um bom marine, aí que está o desafio. É preciso um misto de paciência de monge tibetano, humildade de lixeiro, honra de um cavaleiro da távola redonda e, quando necessário, a força e agressividade de um leão mal humorado

UOL Notícias - Como foi a seleção para o corpo dos fuzileiros navais?
Fernando Rodrigues – A seleção é algo trivial e sem grandes frescuras. São testes físicos, intelectuais e psicológicos. Após toda a burocracia e testes, assinei o contrato de serviço que é irrevogável, o serviço militar dali em diante não é opcional e você não pode simplesmente se demitir ou não mais querer pertencer. As forças armadas são voluntárias, mas a partir do momento que o contrato está assinado você está servindo o governo americano até seu desligamento. Assinei meu contrato com cláusula exclusiva garantindo que eu serviria como “infantry option” (a infantaria, a “ponta de lança” do corpo de fuzileiros navais).

UOL Notícias – Como é o treinamento para se tornar um marine? Quais foram as etapas mais difícieis e exaustivas para se tornar um marine?
Fernando Rodrigues – Os marines são 3 em 1 (terra, mar e ar) numa força menor e expedicionária para pronto emprego. Existe uma amistosa competição entre os ramos das forças armadas para ganhar mais prestígio e verbas do Departamento da Defesa dos Estados Unidos. As unidades mais relevantes, obviamente, recebem mais respaldo e emprego em missões especiais. Se tornar um marine não é tão difícil. Há dois centros de treinamento de recrutas nos Estados Unidos, um em San Diego na Califórnia e outro em Parris Island, Carolina do Norte. Este é o mais notório pântano que há muito tempo treina marines. Em 13 semanas na umidade infestada de insetos dessa base, endurece até os mais teimosos frouxos da sociedade americana.

É uma gritaria sem fim, 24 horas por dia você é submetido a um mundo onde você não é um indivíduo e sua vontade pessoal é irrelevante. Mais importante, você não sobreviverá se continuar a se portar como um indivíduo. Portanto, a dificuldade está em se aliar a um grupo de estranhos no seu pelotão dos mais variados cantos e prevalecer nesse ambiente. Meu pelotão se formou em Parris Island como o pelotão de honra. Foi um verão quente, confuso e sinistro.

Durante o treinamento para ser um marine, é uma gritaria sem fim, 24 horas por dia você é submetido a um mundo onde você não é um indivíduo e sua vontade pessoal é irrelevante. Mais importante, você não sobreviverá se continuar a se portar como um indivíduo

UOL Notícias - Após se tornar um marine, quais atividades fez antes de ir para o Iraque?
Fernando Rodrigues – Fomos ao Iraque duas vezes, sete meses cada (fevereiro de 2007 ao final de setembro 2007 e a segunda campanha foi de julho 2008 à fevereiro 2009). Entre esses períodos era um misto de treinamento intenso e frenético, e de tédio e espera ao dia de embarque ao teatro de operações. O pacote de treinamento para uma campanha de combate no Iraque inclui treinamentos de combate urbano e contra-insurgência em Forte Bragg (base militar), cinco meses de treinamentos diversos e desenvolvimento de táticas operacionais padrão em Camp Lejeune, Carolina do Norte, e o mais desgastante: 40 dias de treinamento no deserto do Mojave em 29 Palms, Califórnia. É um ritmo alucinante e desgastante, especialmente para marines casados e com filhos.

Eu aceitaria melhor se a queda de Saddam Hussein fosse a justificativa dos EUA para a guerra, diz brasileiro que lutou no Iraque

As tropas dos EUA começam a retirada das cidades iraquianas a partir desta terça-feira (30). Para o brasileiro Fernando Rodrigues, que participou de operações militares no Iraque como um marine a serviço dos EUA, a situação está sob controle. Mas “dependerá do povo iraquiano se manter unido e fortalecer seu governo e forças de segurança para que o país tenha as condições básicas e estabilidade para prosperar”, diz. Nesta entrevista ao UOL Notícias, o brasileiro fala sobre a atual situação do país, George W. Bush, Barack Obama, democracia e “radical” Irã.

UOL Notícias – Você foi a favor da guerra do Iraque? O que a sua experiência no Iraque mudou em relação à sua visão do governo George W. Bush?
Fernando Rodrigues – Antes de responder, devo dizer que embora tenha estudado Ciências Políticas, Política Internacional e Assuntos Militares, e servido como um marine, acredito ser extremamente ousado e leviano opinar sobre assuntos tão complexos como este no meu nível de conhecimento. O cidadão comum, mesmo quando mal informado e ignorante opina e se diz contra ou a favor sem qualquer estudo sobre o assunto, apenas levando em consideração o que se ouviu aqui ou ali… Tendo dito isto, na minha ignorante opinião, que no momento não pode ser comparado à decisões de presidentes, secretários de Estado e Defesa, experts em defesa, contra-insurgência e conflitos armados, digo ter tido minhas reservas sobre os conflitos no Iraque. Durante a operação Tempestade no Deserto, de 1991, o Iraque foi expulso do Kuait, e o apoio do mundo aos EUA estava consolidado. Saddam Hussein pilhou, roubou e derramou milhares de toneladas de petróleo do Golfo Pérsico por maldade e por ser um mau perdedor.

ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE Marines3

Por motivos de logística, financeiros e estratégicos, o então presidente George Bush decidiu não ir atrás de Saddam Hussein. Ele sabia que também ganharia o presente de grego de reconstruir toda a bagunça que Saddam e seus filhos causaram durante décadas de ditadura brutal. Isso, porém, apenas adiou o inevitável. Se a entrada dos Estados Unidos na guerra para derrubar Saddam Hussein fosse descrita como tal, e não atrelada ao perigo de armar terroristas e simpatizantes com armas de destruição em massa, eu teria aceitado melhor.

Esses ditadores são uma relíquia macabra de um mundo que já se extinguiu, e é incrível que pessoas como Kim Jong Il, ou outros indivíduos controversos como o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad estejam em cargos de poder, comandando a vida de tantos seres humanos… Por que continuam no poder, mesmo sendo tão negativos para seus povos, para a paz mundial e a evolução e união da raça humana no globo? Agora os povos têm culpa de serem coniventes com as classes que mantêm esses indivíduos no poder, e se se unissem seriam muito mais fácil as mudanças de regime.

A prova de quão longa foi essa guerra do Iraque mostra que alguns povos não estão prontos para a liberdade, a democracia, e apenas após longo período de violência, reconfiguração de prioridades, valores e união, apenas após isso tudo que um país se ergue dos escombros e prospera. São decisões difíceis e com impactos obviamente globais. Os Estados Unidos gastaram muitos bilhões de dólares em ajuda ao Iraque e minha segunda e última campanha lá, quando fiquei sete meses sem dar um tiro ou achar sequer uma bomba, isto prova que a guerra está no fim.

Se a entrada dos Estados Unidos na guerra para derrubar Saddam Hussein fosse descrita como tal, e não atrelada ao perigo de armar terroristas e simpatizantes com armas de destruição em massa, eu teria aceitado melhor


Se o Iraque vai prosperar e manter os níveis de segurança e desenvolvimento alcançado a tanto custo, com vidas perdidas de ambos os lados, isto vai depender deles e a história vai julgar se foi certo ou errado em seu saldo final ao estudar o governo do presidente George W. Bush. Tenho a consciência limpa de que contribuí positivamente com muito trabalho e suor para ajudar esse povo nas responsabilidades que me foram confiadas.

UOL Notícias – Você votou para presidente dos EUA? O que acha das posições do presidente Barack Obama em relação ao Iraque?
Fernando Rodrigues – Quando recebi a cidadania americana no dia 3 de julho de 2008, estava prestes a embarcar para a segunda campanha no Iraque, não tive tempo de me registrar no Estado da Flórida para votar no Iraque com um “Absentee Ballot” (envelope lacrado do governo americano para voto de tropas em campanha), portanto, não pude participar da última votação presidencial. Mas se pudesse votar, embora gostasse do senador John McCain, teria votado no atual presidente Barack Obama, pois acredito que ele é a melhor opção para os desafios e situações do momento.

As posições do presidente Obama no Iraque são baseadas nas pesquisas e entrevistas pessoais com generais, gabinetes especializados na situação em solo e cuidadosamente estudadas, depois implementadas quando decidido ser o mais razoável plano de ação. Não é o esforço de um homem só, embora muitos indivíduos (como o general David Petraeus, que comandou o teatro de operações e foi autor do “Surge”, o aumento de tropas no Iraque, que aniquilou a insurgência terrorista) tenham contribuído mais que outros. A situação daqui por diante dependerá de quanto os iraquianos querem vencer, e ver seu país prosperar. Não se pode forçar um país a evoluir.

A prova de quão longa foi essa guerra do Iraque mostra que alguns povos não estão prontos para a liberdade, a democracia, e apenas após longo período de violência, reconfiguração de prioridades, valores e união, apenas após isso tudo que um país se ergue dos escombros e prospera


UOL Notícias – Os EUA começam a retirar suas tropas das cidades iraquianas a partir do próximo dia 30 de junho. Qual a situação do Iraque hoje? O país é capaz de ter a situação sob controle sem a ajuda estrangeira?
Fernando Rodrigues – Na minha última campanha vi uma polícia iraquiana mais competente, um exército mais profissional, envolvido e tenaz no objetivo de erguer seu país. Desde 2008 até nosso retorno em fevereiro de 2009 desmontamos todas as bases avançadas da nossa área de operações e mudávamos para outra visando a data limite (em acordo com o governo iraquiano) para que todas as tropas americanas estivessem fora das cidades até junho de 2009. A partir dali, se dará a retirada de todo o restante de equipamento, pessoal e tudo que foi instalado desde 2003 que o governo iraquiano não queria utilizar (bases e infraestrutura). É um esforço homérico e uma logística monstruosa.

Motivar os subordinados nessas obras também foi um desafio, pois todos os marines novatos e jovens queriam fazer seu trabalho, participar de ações de combate ou humanitárias, não ficar desconstruindo paredes, esvaziando sacos de areia e recolhendo arame farpado e barricadas por meses no verão iraquiano e depois no inverno. Mas isso tudo mostra que a guerra estava sem dúvida no fim, e que a ausência de ação inimiga era a vitória silenciosa do povo iraquiano, com auxílio dos Estados Unidos. Repito: dependerá do povo iraquiano se manter unido e fortalecer seu governo e forças de segurança para que o país tenha as condições básicas e estabilidade para prosperar.

UOL Notícias – Gostaria de servir os EUA em outra região em conflito? Qual?
Fernando Rodrigues – Fiquei ao todo 14 meses no Iraque. Com a guerra do Iraque e a do Afeganistão chegando ao fim, sinto que fiz minha parte. Se tivesse optado por seguir carreira como um “marine officer” teria extendido meu serviço por mais 4 anos. Decidi, entretanto, que seria mais útil à minha família e à sociedade como empresário. Tenho a segurança que os marines sobre meu comando foram bem treinados e passamos tudo que sabíamos para a nova geração, que irá para o Afeganistão em 2010. Essa guerra está também chegando ao fim e não vejo grandes perigos para meus “irmãos-de-armas”. Mantemos contato e com certeza enviarei pacotes motivantes quando lá estiverem (guloseimas, revistas, livros, filmes, etc) para os momentos entediantes. Se os Estados Unidos entrassem em algum grande conflito, em que inocentes estivessem morrendo aos milhares, com algum país radical como o Irã, talvez então cogitasse participar, mas tenho a certeza de que os marines não estarão desfalcados sem mim, afinal estão indo bem desde 1775. Missão cumprida e viramos a página do livro da vida…

Missões de captura de terroristas eram como atacar uma mosca com bazuca, diz brasileiro que lutou no Iraque

A partir da próxima terça-feira (30), os EUA começam a retirada de suas tropas das cidades do Iraque, iniciando assim o fim de uma guerra que provocou polêmica em todo o mundo e produziu cenas como a de um jornalista lançando um sapato em direção ao então presidente George W. Bush. Em meio aos conflitos, estava um brasileiro. Fernando Rodrigues, 28 anos, foi marine dos EUA e participou de duas campanhas no Iraque (de fevereiro de 2007 ao final de setembro 2007 e de julho 2008 a fevereiro 2009). Nesta entrevista ao UOL Notícias, Rodrigues conta como foi sua experiência no Oriente Médio, da sua experiência em missões de captura de terroristas e dos momentos de tensão como soldado dos EUA no território iraquiano.

UOL Notícias - Quando foi convocado para servir no Iraque? Qual foi a sua reação?
Fernando Rodrigues – Nós não fomos convocados, desde o ínicio das operações de guerra global contra o terrorismo, (no Afeganistão, em 2001, e no Iraque, em 2003) os “infantry marines” já caem na frota sabendo para onde vão e quando. Ainda no campo de treinamento de recrutas de Parris Island todos os marines com contratos de “infantry” já sabiam obviamente que iriam ou para o Iraque ou para o Afeganistão. É que nem o policial que é aceito num grupo de elite como o Bope do Rio de Janeiro. É apenas uma questão de tempo até que você esteja em operação contra o inimigo. No caso do Bope, o inimigo é o crime e o tráfico de drogas, no caso dos marines, são os terroristas radicais islâmicos.

É algo tão óbvio quanto o cirurgião em treinamento pensando se um dia irá operar algum paciente. Portanto, minha reação foi natural, eu estava ali para servir, preferencialmente em missão de paz, mas como não escolhemos as guerras que participamos (políticos escolhem isso para nós) fazemos o que é necessário no momento, nunca esquecendo que agimos como diplomatas armados pelos Estados Unidos e o mundo ocidental. Cada ação sua pode provocar grandes reações no mundo árabe e isso lhe dá grande responsabilidade, pois você carrega a reputação de todo o Corpo de Fuzileiros que existe desde 10 de novembro de 1775. Eu representava minha unidade. Meu maior medo era errar em alguma situação e que isto trouxesse desonra à mim, aos marines, aos Estados Unidos, ao Brasil (afinal, também sou cidadão brasileiro) e à minha família. Queria fazer um bom trabalho e deixar um Iraque melhor do que encontrei, mesmo que sob meu o ponto de vista particular

UOL Notícias – Que missões você fez no Iraque? Quais foram as piores situações que enfrentou no Iraque?
Fernando Rodrigues – As missões numa campanha como a que vivenciamos no Iraque era a “contra-insurgência”, um conflito de baixa intensidade de guerrilha, em que o inimigo (os terroristas) estão ocultos na sociedade e raramente aparecem para lutar. Normalmente, para preservarem suas vidas optam por usar bombas e artefatos explosivos para causar terror e baixas, sejam elas civis ou militares, tanto para americanos como iraquianos que cooperassem com o governo nacional ou coalizão.

Nessa guerra, 60% do tempo dos marines é usado para trabalho braçal relacionadas a bases avançadas (no meio do deserto em locais estratégicos). Você passa a maior parte do tempo queimando lixo e excremento humano (obviamente sem encanação), organizando a logística (helicópteros regularmente traziam pilhas de garrafas de àgua e rações militares). Mais importante, somos responsáveis pela segurança da base, tendo 24 horas por dia ao menos um “Marine Rifle Squad” (grupo de até 13 marines) fazendo guarda, enchendo sacos de areia e comunicando por radio qualquer ocorrência relevante à segurança ao Centro de Operações de Combate; 30% do tempo é usado para patrulhas que fazem checkpoints checando identidades e revistando veículos locais, negando ao inimigo a liberdade de movimentar artefatos explosivos ou armas, procurando arsenais escondidos pelos terroristas, procurando bombas em estradas e pontos de maior trânsito; 5% é usado para operações de ajuda humanitária, incluindo distribuição de comida, cestas básicas, livros escolares, verbas para infraestrutura etc. E os últimos 5% é o momento mais sinistro, quando o setor de Inteligência acha o paradeiro de “HVTs” (High Value Targets, os terroristas mais procurados) e ali montávamos “raids” (buscas de alto risco) para aprender (preferencialmente) ou eliminar (se não tivesse outra alternativa) o terrorista em questão.

Meu maior medo era errar em alguma situação e que isto trouxesse desonra à mim, aos marines, aos Estados Unidos, ao Brasil e à minha família


UOL Notícias – Como era a rotina no Iraque?
Fernando Rodrigues – A batalha de Fallujah (novembro de 2004) foi a última vez que os terroristas entraram em combate convencional (aparecem para lutar em combate contínuo, ao invés de se esconderem na população e botarem bombas nas estradas que usamos) e sofreram mais de mil baixas devido à ação dos marines que participaram da retomada da cidade. A partir dali, era esse jogo de gato e rato, que é muito cansativo. No segundo dia que estávamos no Iraque em 2007, um terrorista suicida detonou seu carro bomba num checkpoint de outro pelotão da minha companhia ferindo alguns marines. Atravessamos o deserto para a região à margem leste do rio Eufrates a 80 km à noroeste de Bagdá. Essa região não tinha presença de tropas da coalizão havia dois anos, e lá montamos uma base improvisada no meio de uma montanha no deserto. Achamos ao todo mais de sete toneladas de armas e explosivos escondidos, e, com auxílio do pelotão antibombas, desarmamos bombas nas estradas e conduzimos muitas atividades humanitárias às aldeias locais, auxiliando à polícia e exército iraquiano a manter a segurança da região.

Eu estava num HMMWV (ou Hummvee, que significa High Mobility Multi Purpose Wheeled Vehicle. Os militares amam siglas, conforme você pode constar, é o nome do “jipe” blindado que em conjunto com outros veículos como o MRAP, é usado para patrulhas) que capotou montanha abaixo quando procurávamos o melhor local para construir nossa base. Não sofremos ferimentos… E mais importante para a vitória, dos dez terroristas mais procurados da região, o batalhão capturou oito e eliminou os últimos dois, sendo quatro desses capturados pelo meu pelotão. O pelotão de snipers eliminou os últimos dois, enquanto botavam bombas nas estradas.

UOL Notícias - Você participou da captura de terroristas? Como eram essas missões?
Fernando Rodrigues – Essas missões eram os mais minuciosos planos de ataque no meio da madrugada, às vezes, para os terroristas mais violentos eram usados uns 30 marines com suporte aéreo (helicópteros de ataque AH-1 Cobras e às vezes aeronaves de asa fixa, como F/A-18 Hornet ou o que estivesse disponível). Sendo nosso pelotão o de armamento pesado (Weapons Company) com metralhadoras M2HB .50 Cal e o Mk.19 40mm Automatic Grenade Launcher (que destroi um caminhão com um tiro ou um prédio com uma rajada), era o clássico ataque à mosca com a bazuca…

Nessa guerra, 60% do tempo dos marines é usado para trabalho braçal relacionadas a bases avançadas. Você passa a maior parte do tempo queimando lixo e excremento humano, organizando a logística


Esse poder de fogo e agressividade nos deu a vantagem de tirar qualquer defesa dos terroristas, que foram capturados em maior parte vivos e sem ferimentos. Depois disso, o mais bizarro: o transporte dos terroristas de volta à base e a guarda desses indivíduos, feita pelo pelotão de captura (nós) até que as forças iraquianas viessem buscá-lo para que este fosse julgado pelo processo penal iraquiano, como um criminoso.

Como tudo era improvisado na nossa base no meio do nada, a “prisão” de detentos era um contêiner de madeira com grade de arame, sem fechadura. Você sentava com o fuzil em uma cadeira na frente, guardando normalmente um a três detentos. Se eles tentassem fugir, força letal estava autorizada. Mas tudo correu bem, e eles ficaram quietinhos e comportados, enquanto nós, profissionais, zelávamos também pela segurança e integridade física dos detentos.

UOL Notícias - Durante a missão no Iraque, quais foram os momentos mais tensos para um soldado dos EUA?
Fernando Rodrigues – Os momentos mais tensos em termos de perigo foram na primeira campanha (2007), pois driblávamos bombas nas estradas e quando respondíamos à ataques com bomba à outras unidades. Vimos alguns marines que não eram “infantry” (eles eram mecânicos ou faziam o transporte de suprimentos) que teimavam em sair das linhas amigas sem escolta de infantaria e volta e meia eram atingidos por alguma bomba bem escondida nas estradas. Nós éramos treinados para isso e era nosso feijão com arroz. Em duas ocasiões houve feridos e mortos que fomos resgatar. O impacto de chegar em uma cena assim com feridos ou corpos carbonizados no chão, ter que juntar um pedaço humano carbonizado, que há pouco era uma pessoa falando, andando e pensando, é algo que mexe com você.

Como tudo era improvisado na nossa base no meio do nada, a “prisão” de detentos era um contêiner de madeira com grade de arame, sem fechadura. Você sentava com o fuzil em uma cadeira na frente, guardando normalmente um a três detentos

Foto:marine2 foto de Alexander Nemenov/AFP – 11.out.2007

ENTREVISTA COM O BRASILEIRO QUE LUTOU NO IRAQUE Marines2
UOL Notícias – Você sofreu algum ferimento?
Fernando Rodrigues – Não sofri nenhum ferimento no meu serviço. Logicamente a vida de infantaria pesa no corpo ao passar dos anos: as costas, o joelho… o corpo todo reclama dos abusos físicos, das temperaturas exóticas (calor infernal no verão e frio abaixo de zero no inverno), muitos tiros de metralhadoras pesadas, não é o melhor para a audição. Para quaisquer fins, não sofri nenhum ferimento no Iraque e tenho profundo respeito pelos verdadeiros heróis, os que perderam amigos, derramaram seu sangue ou por lá deram tudo sem pedir nada em troca, em prol da liberdade contra o terrorismo.
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